

Uma vida dedicada ao campo, à família e às tradições gaúchas será reconhecida em nível estadual. Eroni Côrtes Barcelos (in memoriam) será homenageado com a Comenda Tropeiro, distinção concedida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) após indicação da 9ª Região Tradicionalista (RT). A entrega ocorrerá durante a programação do 59º Aniversário do MTG, no dia 25 de outubro, em Serafina Corrêa, pertencente à 11ª RT.
Nascido em 11 de janeiro de 1945, na localidade de São Joaquim, interior de Jari, Eroni era filho de Ari Peixoto de Barcelos e Zilá Côrtes Barcelos. Herdou do campo e da lida com os animais a força e a sabedoria que marcariam toda a sua trajetória.
Foi casado com Irondina Terezinha Alves Barcelos, com quem teve quatro filhos, além de netos e bisneto. Juntos, construíram uma família que manteve viva a tradição que tanto valorizava.
A vida na fazenda e os negócios da família o levaram a se tornar tropeiro. Seu pai negociava as tropas de gado, e a ele cabia buscá-las, acompanhado de parceiros de tropeada. Eram jornadas que exigiam coragem e dedicação. O primeiro dia sempre era o mais difícil, até que a tropa encontrasse o compasso, guiada pelos bois sinuelos, que com firmeza e confiança marcavam o rumo do gado. Eroni costumava dizer: “Onde vai um, vão todos.”
Entre as muitas histórias vividas nas tropeadas, lembrava com carinho de um tempo em que a confiança valia mais do que qualquer papel — como na vez em que precisou abrigar a tropa na estância de um amigo, que lhe abriu as porteiras sem pedir nada em troca. O cuidado com o gado era prioridade: contava os bois de dois em dois, prática tradicional nas tropeadas.
Alguns desafios marcaram sua trajetória, entre eles o enfrentamento da febre aftosa. Em uma das viagens, precisou desviar toda a tropa antes de chegar a Tupanciretã, aguardando por dias a autorização para seguir viagem. O percurso, sempre por estradas de chão, exigia firmeza e paciência dos tropeiros, que conduziam o gado com determinação.
Além do cuidado com o gado, havia também a preocupação com a alimentação. Carneavam capões, salgavam bem a carne e a enrolavam em pelegos para garantir sustento durante as longas jornadas. Eroni explicava, ainda, a importância da fatura — momento em que reuniam bois comprados em diferentes fazendas para formar o lote final. Era um trabalho de experiência e olhar atento, separando a tropa até ficarem apenas os animais de ponta.
Mesmo entre os desafios da lida campeira, havia espaço para a convivência simples e sincera. As cesteadas ficaram marcadas na memória: a carne assando no fogo de chão, o mate passando de mão em mão e a tropa descansando à sombra. Para Eroni, esses momentos eram a essência da vida campeira — simples, mas grandiosa.

Além de suas contribuições como tropeiro, Eroni ajudou a criar o esporte campeiro, que hoje é difundido em todo o país, valorizando as tradições gaúchas e fortalecendo a cultura do campo.
Eroni Côrtes Barcelos faleceu em 17 de agosto de 2023, aos 78 anos. Patrão do CTG Tapera Velha e integrante do Grupo dos 8, deixou um legado marcante no tradicionalismo regional e tupanciretanense, sendo lembrado pelo engajamento, liderança e amor às tradições gaúchas.
Nas redes sociais, sua filha Elaine Barcelos expressou a emoção da família diante da homenagem:
“Com certeza levaremos sempre a tua história, meu pai. Teu legado vai ser lembrado. Eroni Côrtes Barcelos.”
O piquete que fundou e o CTG que liderou permanecem como chamas acesas de um legado que ultrapassa gerações. Nos campos do Rio Grande do Sul, segue viva a memória do tropeiro que acreditava que, “onde vai um, vão todos.”
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